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Document Request: O conto de PEDRO CARLOS DA GAMA LOBO PITTA
Document Description: Pedro Carlos da Gama Lobo Pitta, que depois foi capitao do Exercito, sobre a sua ação nos dias do movimento revolucionario,
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r1M283 PEDRO CARLOS DA GAMA LOBO PITTA —
O cadete, depois capitão Pedro Carlos, nasceu na Província Cisplatina, sendo filho do Coronel Joaquim Claudio Barbosa Pitta, natural de Portugal, que ali se achava no exercito de ocupação e de sua mulher Maria José da Gama Lobo, tambem natural de Portugal.
De uma filha natural de Tristão Barreto Pereira Pinto, irmão do marechal Sebastião Barreto, e de Eufrasia Joaquina de Souza Lobo. – Leocadia Joaquina Pereira Pinto, nascida em P. Alegre, teve Pedro Carlos um filho, Antonio da Gama Lobo Pitta, que nasceu em Porto Alegre em 28-X!!-836.


Pedro Carlos da Gama Lobo Pitta, que depois foi capitao do Exercito, deixou as informações até hoje inéditas, sobre a sua ação nos dias do movimento revolucionario, e entregues ao dr. Ramiro Barcellos que foi um grande estudioso desse período da historia do Rio Grande. Registrando-as aqui oferecemos magnifico subsídio aos historiadores desde a marcha de Corte Real, da Cochoeira, até as prisões a que se refere a relação que anotámos:

“No dia 3 de Janeiro de 1836, sendo 1o cadete do 3o regimento, com 16 anos de idade, me apresentei ao coronel Affonso de Almeida Corte Real, coronel em chefe da legião do departamento de Cachoeira. Já o encontrei com alguma força.

No dia 16, acamparam perto de Cachoeira, cerca de 300 homens, na margem esquerda do Capané. No dia 21 fui nomeado ajudante de campo de Corte Real.

Até 30 de Janeiro chegavam mais de 160 guardas nacionais, formando-se 5 esquadrões de 98 praças:
1.o Esquadrão da Cachoeira, ao mando de Antonio Manoel de Azambuja.
2.o Esquadrão do Rio Pardo, ao mando de Fransisco de Paula do Amaral Sarmento Menna, tendo por subalternos Sebastião Guedes e Antonio Manoel de Amaral; e como praças Amaral Ferrador, Wenceslau seu irmão, Fructuoso Fontoura, Portinho, etc.
3.o Esquadrão da Encruzilhada, tendo por chefe o tenente Chico Ribeiro.
4.o Esquadrão de Caçapava, do major Don Firmino.
5.o Esquadrão de Guerrilhas, ao mando do capitão Agostinho de Mello.

No dia 3 de Fevereiro foram mandadas diferentes partidas a buscar cavalhadas. Voltaram no dia 12 trazendo mais de 600 cavallos mansos e cento a tantos pôtros. Na noite de 13, houve uma disparada de potrada, que quasi nos deixou a pé.

No dia 15 teve o Coronel parte de alguns bombeiros que tinham visto reboliço de aguada e uma partida no outro lado do Irapuá.

Nessa noite marchou em descoberta o capitão Agostinho de Mello com 60 carabineiros, e Sebastião Guedes com 40 homens de reserva, voltando no dia 20.

Nessa mesma noite levantamos o acampamento, deixando os fogões accesos.

No dia 21 estavamos aquém de Iruhy, ficando o quartel-general em casa de Clarindo, filho do Coronel Bibiano, tendo feito uma marcha de 5 leguas.

Foi collocado meio esquadrão no passo …. legua acima do Passo Geral e foram mandados diferentes bombeiros e um próprio a Cachoeira, ao cirurgião Gaspar.

No dia 23 chegou ao acampamento o major João Manoel de Lima e Silva com seu piquete.

Nesse mesmo dia recebeu Corte Real officio de Bento Gonçalves, prevenindo que talvez tentasse Bento Manuel ir á Capital, e que tinha dado ordem ao tenente-coronel Moraesinho para se lhe ir encorporar com 300 homens.

No dia 25 veio dar ao acampamento, fugido de Cachoeira, o importante liberal Fontoura, trazendo a notícia de ter sido preso ali por forças de Bento Manoel o cirurgião Gaspar (que morreu depois na Presiganga em Porto Alegre) Gaspar era amigo de Bento Manoel e este sempre pousava em sua casa.

No dia 26 de manhã, alguns bombeiros participaram que, aquém de Pequeri, tinham visto grupos em diversas direcções. Corte Real reuniu conselho de officiaes; foram aumentados os piquetes e reforçado o passo geral; a guerrilha teve ordem de promptidão, e fortes destacamentos passaram além do Iruhy em quarto de légua, marchando também a guerrilha.

Ao toque de alvorada de 27, o piquete do centro deu alguns tiros e se retiraram todos, vindo formar na retaguarda da guerrilha, que se achava estendida. A’s 7 horas, de cima da colina, descobriu Corte Real com um óculo de alcance, a curta distância, uma força de mais de mil homens, em columna cerrada.

A’s 8 horas, a nossa força, em número de 500 homens, tendo na frente a guerrilha com mais de 100, formou nas alturas aquém do passo, em 4 esquadrões, do modo a não deixar o inimigo calcular a sua força.

A’s 9 horas, apareceu na vanguarda uma guerrilha, com protecção de 3 esquadrões, vindo desenvolver-se em frente a nossa a tiro de arma. O grosso da força, indo acampar na quebrada de dois cerritos, entre alguns capões, ficando escondido à nossa.

Bento Manoel fez seu quartel-general na estância do finado Fredo, a 6 quadras da nossa vanguarda.

Principiando tiroteio nas guerrilhas, apareceu um parlamento de Bento Manoel, intimando que dessemos o passo, com promessa de perdão, e que entregassemos os officiaes do exército considerados desertores.

Corte Real respondeu que sua força não podia concordar, mas que devendo chegar a todo o momento o Coronel Bento Gonçalves, se quizesse esperar 4 horas, dando suspensão poderia ser attendido por este, que se achava a meia légua.

Neste interim recebeu um officio comunicando que a major Moraesinho se achava na quinta do Coronel Ribeiro, mudando de cavallos. Fui mandado a meia redea ao seu encontro, em ordem de marchar a trote largo para o acampamento, e logo que chegasse se escondesse do inimigo atraz da collina que fica a direita do passo, e que ahi encontraria remonta de cavallos.

A pouco mais de meia légua encontrei a força, que acelerou a marcha.

A’ 1 hora da tarde de 28 chegou, desenvolvendo-se em duas columnas. Passei a galope o passo a dar parte a Corte Real.

Encontrei-o entre as duas guerrilhas conferenciando com o brigadiero Gama e outros officiaes legalistas. Disse em vós alta:-- Bento Gonçalves chegou á Quinta; sua vanguarda ali está e elle não pode demorar.

Gama retirou-se, recuando a guerrilha mais de cem braças, sem dar um tiro.

Pelas 4 horas veio outro parlamento prometendo amnistia promettendo amnistia em nome do presidente a dando prazo, afim de evitar efusão de sangue, até as 8 horas do dia seguinte.

A tarde passou-se como se nada houvesse, chegando à fala muitos conhecidos.

Toda a noite houve vigilância, com fogos apagados, a contrastar com o acampamento de Bento Manoel, onde houve fogos bem claros, até às 11 horas ou meia noite.

Ao romper da aurora, não sendo avistada a vanguarda inimiga, foram mandados bombeiros em diversas direcções. A’s 7 horas veio parte de que a força de Bento Manoel fora avistada do outro lado do Pequery e que, no trajecto de legua e meia do Iruhy, se encontravam malas, armas e até assados de véspera.

Por três guardas nacionais que se passaram, soube-se que Bento Manoel tinha vindo com intenção de bater Corte Real, entre Capané e o Pequery; e que, tendo-se encontrado com Iruhy, logar escalvoso para manobrar a cavallaria e contando-lhe a juncção do Major Lima e da vanguarda de Bento Gonçalves, se retirara, procurando a junccao de Gabriel Gomes, que se achava no Lagoão, na estancia de Feliciano Fortes, com 400 homens.

Ao anoitecer marchamos, indo as cavalhadas na retaguarda. A’s 10 horas da noite, fizemos alto no passo real do Pequery. A’s 4 horas fez-se alto de novo, recebendo ordem o capitão Francisco de Paula para, ao romper da alva, carregar sobre o passo geral do Capané, tendo de reserva o esquadrão de seu irmão Antonio Manoel.

Ao romper do dia nos pechamos com uma guarda de mais de 40 homens ao mando do capitão João Propicio Menna Barreto, tendo uma protecção em um rancho alem do passo. Foi uma surpresa esplendida.

Essa força correu em debandada pela encosta do Capané, em direcção á força de Bento Manoel.

Nossa columna passou incontinenti por meios esquadrões, fazendo marcha em esquadrão de lanceiros para proteger a vanguarda e bem assim os carabineiros do capitão Agostinho de Mello.

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Bento Manoel não teve tempo senão de calçar uma bota, deixando até a mala de couro com seus papeis, e mal podendo formar uma guerrilha para organisar uma força.

Alcançado pela nossa vanguarda, houve, entrevero, de que resultou algumas mortes e bastantes feridos.

Da columna foram despregados dois esquadrões, commandados pelo capitão Azambuja e Sebastião Guedes. Desta arte levamos de envolta a força de Bento Manoel por mais de 6 leguas, não sendo elle preso por não termos tempo de mudar cavallos.

Chegando á estancia de D. Maria, do Lageado, num passo escalvoso que há além da casa, se fizeram fortes, dando tempo a Bentos Manoel de mudar de cavallo e salvar a força, que tinha de certo de ser debandada antes de chegar á Capellinha.

Ahi tivemos feridos e contusos; entre outros o bravo Balthazar de Bem, gravemente contuso no peito.

Por ordem do major Lima, o tenente-coronel Moraesinho com 3 esquadrões se dirigiu a galope a um passo, á esquerda do Passo Real, afim de cortar-lhes a retirada. Tendo percebido este movimento, abandonarem a resistencia. Já Bento Manoel, com o grosso da força, alcançava a Capellinha na estancia do brigadeiro Alencastro.

A’s 4 horas acampamos perto de Capellinha, e nossas avançadas ainda perseguiram a Bento Manoel perto de meia legua.

No dia 3 de Março nossos bombeiros deram parte que a força de Bento Manoel tinha levantado campo de Lagoão em direcçao ao Passo dos Enforcados, em Camaquam. Foram mandados proprios a Bento Gonçalves.

Na manhã de 4, teve parte Corte Real que Bento Manoel se ia em direcçao a S. Gabriel, em marcha accelerada, arebanhando cavalhadas.

No mesmo dia, as 5 horas da tarde, marchamos, indo acampar no passo de Santa Barbara, no passo de cima.

Ali estivemos os dias 5 e 6, em que marchamos em direcçao do Passo Geral, de S. Sepé.

No dia 7, João Manoel com 200 e tantos homes, marchou para Caçapava.

No dia 11, acampamos no Rincão do Formigueiro, alem de S. Sepé.

No dia 14, marchamos, em numero de 650 homens, em direcção ao Passo de Vacacahy (Passo de Rocha) e dahi em pequenas marchas no dia 20 para o Passo do Rosario.

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Corte Real teve participação official que Bento Manoel para ali se dirigia com 1.300 homens, tendo nessa força os cascos do 3o e 5o regimento de linha. Um officio de Bento Gonçalves, recebido nesse dia, ordenava a Corte Real que não atacasse a Bento Manoel e o levasse em direcçao a S. Gabriel, onde elle se achava com mais de mil homens, no passo do Pinto, nos campos de capitão Fidelis; que, neste caso Antonio Netto cortaria a retirada de Bento Manoel com mais de 300 homens.

Nesse mesmo dia Corte Real, entregou-me officias para o major Lima com quem estive a 3, e que me mandou com offiicios ao presidente Marciano em Porto Alegre, tendo ordem para entender-me no Rio Pardo com o commandante da guarnição, o tenente-coronel Amaral, pae.

Este entregou-me presos, para levar a Porto Alegre, o marechal de Exercito João de Deus Menna Barreto, José Joaquim de Andrade Neves (pae do Barão de Triumpho) e outros.

No dia 17 de Junho foi preso e mandado com o vice-presidente Marciano, José de Paiva Magalhães Calvete, Alexandre Ferreira Ramos, tenente de artilharia Reis de Alpoim, 2o tenente Marques, Xavier Ferreira e outros em numero de 12 e fomos os primeiros presos saidos de Porto Alegre para o Rio de Janeiro. Tivemos ferros nos pés no patacho Pojuca e fomos provar a casa forte da ……”

(Resumido de um fragmento dos apontamentos fornecidos ao Dr. Remiro Barcellos pelo capitão do exército Pedro Carlos da Gama Lobo Pitta) (Arq. Hist. – R.G.S.).

Publicações do Arquiva Nacional, Brasil, 1918

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